segunda-feira, 23 de abril de 2012

COMO MANTER A SUA PAIXÃO VIVA

Ken está indo para o ensaio do grupo de louvor com um sentimento
de medo. Embora não tenha nada melhor para fazer esta noite, ainda
assim, ele gostaria de ir a outro lugar. Ele está escalado para fazer um
solo domingo, mas não está muito animado. Ele canta há mais de dez anos no
grupo, mas seu coração não está mais no ministério como antes. Não costumava
ser assim. Cantar na igreja era o máximo para Ken — muito prazeroso,
não demandava nenhum esforço e trazia uma enorme satisfação. Nos “velhos
tempos” ele era sempre o primeiro a chegar e o último a sair. Estava sempre em
busca de novidades musicais. Recrutava novos cantores e discipulava um casal
de recém-convertidos. Liderava as devocionais ao final dos ensaios. Chegou a
ter aulas de canto e a praticá-las, por conta própria, entre os ensaios. Agora,
no entanto, nada mais tem a mesma importância. Quando a igreja lhe pede
que faça algo, ele sente-se sobrecarregado, como se o pedido resultasse num
peso a mais. Para dizer a verdade, Ken está menos envolvido na igreja do que
jamais estivera antes.
No estacionamento da comunidade, Ken, sentado no banco de seu carro,
tenta encontrar motivação para entrar. “O que há de errado comigo?”, ele se
pergunta: “Tudo o que faço parece um sacrifício. Como cheguei a esse ponto?
Estou fazendo o que faço simplesmente por fazer”.
Enquanto Ken continua retardando o abrir da porta, o carro de Dave
encosta ao lado do seu. Eles se cumprimentam educadamente. Dave é um novo
vocalista do grupo, apaixonado por Cristo. Ele deu início ao grupo de oração
e organizou uma apresentação em um asilo, ano passado. Quando ele canta, o
Espírito Santo se move poderosamente. Em outras palavras, Dave é exatamente
aquilo que Ken costumava ser.
Naquele instante, Ken percebe algo que teve medo de admitir. Ele perdeu
sua motivação. Engolindo seco ele diz bem alto: “Perdi minha paixão por
Deus, minha paixão pelo ministério e minha paixão por cantar”. Essas palavras,
sombrias, pairam no ar como um canto fúnebre. Tudo o que ele tem vontade
de dizer é: “Deus, me ajude”.
Alguns minutos se passam. O silêncio vai se tornando mais e mais doloroso.
Ele olha para o seu relógio, abre a porta do carro e lentamente caminha
em direção à igreja. Encontra Dave à porta. Eles se cumprimentam com um
aperto de mão e Dave diz:
– Oi, Ken, como você está hoje?
Ken abre um sorriso e responde:
– Estou bem.
PODER DA PAIXÃO
Para mim, a paixão sempre significou dar tudo de si por algo que seja
importante. Esse conceito foi implantando em mim por meu professor favorito
de regência na faculdade, que sempre nos dizia: “Você deve dar tudo de si à
música e deve fazê-lo com paixão!”
Pessoas apaixonadas parecem mais vivas! Elas são exuberantes e dinâmicas.
Possuem uma vitalidade empolgante, uma alegria constante. Olham para
o futuro com esperança, porque sempre acreditam que o melhor ainda está
por vir. A vida das pessoas apaixonadas parece ter significado e propósito e as
outras pessoas querem estar ao seu redor porque seu entusiasmo pela vida é
contagiante. É exatamente assim que Deus quer que vivamos. Jesus disse: “eu
vim para que tenham vida, e a tenham plenamente” (João 10.10). Deus deseja
que tenhamos vida plena — que vivamos vidas estimulantes e profundamente
enriquecedoras.
Alguns cristãos podem opor-se ao fato de eu encorajar a pôr mais paixão em
nossa vida. Afinal, crescemos ouvindo sermões que condenam nossas “paixões
pecaminosas”. E eles estão certos. Gálatas 5.24 diz: “Os que pertencem a Cristo
Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos”. O desejo
pecaminoso que justifica a carnalidade está errado (Tg 1.14,15). Trata-se de
paixão mal direcionada.
Por outro lado, existe o que pode ser chamado de paixão íntegra e santa.
Deuteronômio 6.5 nos exorta a amar o “SENHOR, o seu Deus, de todo o
seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças”. Pessoas apaixonadas
por Cristo são apaixonadas pelas coisas de Deus. Elas são poderosas em Cristo
porque ele age poderosamente por meio delas (2 Co 13.3).
A Bíblia transborda de paixão. O salmista escreveu: “Como a corça anseia
por águas correntes, a minha alma anseia por ti, ó Deus. A minha alma tem sede
de Deus, do Deus vivo. Quando poderei entrar para apresentar-me a Deus?” (Sl
42.1,2). Ouça Paulo descrevendo sua paixão por Cristo: “porque para mim o
viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fp 1.21). Ele se torna ainda mais específico
alguns versículos mais adiante, quando diz: “Mais do que isso, considero tudo
como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo
Jesus, meu Senhor, por quem perdi todas as coisas. Eu as considero como
esterco para poder ganhar Cristo” (Fp 3.8). Essas são palavras de uma pessoa
apaixonada.
Embora Pedro, o discípulo, fosse temerariamente impulsivo, Jesus o
apelidou de “a Rocha” e edificou sua igreja sobre ele. O que Jesus viu em
Pedro que produziu tamanha confiança nele? Suspeito que fosse a sua paixão.
Pedro é aquele que disse a Jesus: “Ainda que todos te abandonem, eu nunca te
abandonarei! Mesmo que seja preciso que eu morra contigo, nunca te negarei”
(Mt 26.33-35). É claro que, mais tarde, ele chegou até mesmo a negar Jesus, de
modo que não conseguiu sustentar suas afirmações tão imodestas. Mas fica claro
que Pedro era movido por seu coração. Ele foi o único discípulo a colocar o pé
fora do barco no meio de uma tempestade e a tentar caminhar sobre as águas
agitadas na direção de Cristo. Depois da ressurreição, também vemos Pedro
fazendo um apelo apaixonado após outro aos perdidos para que conhecessem
a Jesus Cristo e fossem salvos (At 2-5; 10-12).
Se você ainda se sente desconfortável com minha defesa pela paixão,
deixe-me perguntar-lhe: como tradicionalmente chamamos a última semana
de nosso Senhor na terra? “Semana da Paixão”. Por séculos o sofrimento de
Cristo, do Getsêmani ao Gólgota, foi chamado de “a Paixão”. Jesus tinha uma
paixão por fazer a vontade de Deus. Cristo foi para a cruz porque nos amou
com devoção irresistível.
A paixão pode ser uma forma poderosa de motivação. No passado, sempre
que eu sentia falta de paixão pelo ministério, pela música ou pela vida eu
achava que era porque estava cansado. Concluía que, se me cuidasse fisicamente
e emocionalmente, seria o suficiente para evitar que eu perdesse minha paixão
e entusiasmo. Embora seja importante cuidar de si através de exercícios, alimentação
saudável e horas suficientes de sono, é preciso mais do que isso para
viver com motivação.
Eu me recordo de muitos períodos quando cheguei ao limite da fadiga
e pensei que minha paixão havia se desvanecido. Mas ela não se abalou. Na
verdade, redescobrir minha paixão foi aquilo que me fez perseverar. Do mesmo
modo, a Bíblia diz que durante uma das batalhas mais difíceis de Gideão, ele
e seus homens estavam “exaustos, [mas] continuaram a perseguição” (Jz 8.4).
Porque eram homens valentes, conseguiram encontrar dentro de si paixão
suficiente para resistir à adversidade.
A paixão também ajudou o apóstolo Paulo a vencer a dificuldade. Em
1Tessalonicenses 2.2, ele escreve: “Apesar de termos sido maltratados e insultados
em Filipos, como vocês sabem, com a ajuda de nosso Deus tivemos
coragem de anunciar-lhes o evangelho de Deus, em meio a muita luta”. Diante
da perseguição, Paulo ainda pregou o evangelho porque tinha paixão pelos
perdidos.
A paixão é também a marca de um grande artista. Na verdade, Efésios
5.19 nos informa que há uma conexão entre o coração e a arte: “falando entre
si com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando de coração ao
Senhor” (grifo do autor). A arte é uma expressão do coração. Se o seu coração
não for vibrante a sua arte não terá vida. Os maiores artistas da história foram
conhecidos por sua paixão. É ela que compeliu Handel a se isolar por vinte e
quatro dias ininterruptos com pouca comida e água e horas de sono reduzidas
enquanto escrevia “O Messias”. A paixão é o que motivou Michelangelo a
passar quatro anos de sua vida desconfortavelmente em pé sobre um andaime
para pintar a Capela Sistina.
Uma das combinações mais poderosas sobre a terra é a do talento artístico
morando dentro de um coração apaixonado por Deus. Êxodo 36.2 revela
que artistas que trabalhavam no tabernáculo eram talentosos e apaixonados:
“Então Moisés chamou Bezalel e Aoliabe e todos os homens capazes a quem
o SENHOR dera habilidade e que estavam dispostos a vir realizar a obra”.
Quando um chamado de Deus é acolhido por aqueles que não somente são
talentosos, mas que também lidam com a sua arte de forma apaixonada, Deus
os usa de maneira poderosa.



Fonte: Texto extraído do livro “A Vida do Artista” do autor Rory Noland, capitulo um.
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